terça-feira, 14 de abril de 2009

BLUE MONTAINS - PART II






Bom, fazia muito frio e chovia. Fomos pro famoso mirante ver as famosas Tree Sisters (foto) e ......era tudo branco. So nuvem. Alguem decidiu andar e eu deixei claro: eu faço a caminhada que diz ser 15 min, ok? Nada alem!
Todos concordaram e caminhamos rumo a waterfall. Meia hora andando na lama a chuva aperta e paramos numa pedra. Notando que a água não iria parar de cair decidimos continuar a trilha (sim, a essa altura eu já havia notado que se tratava de uma trilha).
Durante o caminho emperramos numa excursão, nesse momento um dos amigos falou: o ponto de referencia vai sumir (ele tava todo de amarelo) e realmente sumiu. Menino de palavra esse! (eu tbem chamei ele de algo menos legal, rs). Tentando escapar da escursao mais uma galera sumiu e restou eu, a carla (uma menina q como eu, odeeeeia andar ou fazer qq outro exercício q não seja levantamento de copo de cerveja) e o Alex, um menino enviado por Deus pra cuidar da gente, rs.
Agora a trilha começou!
Lama lama lama. Nos andávamos feito patas com medo de cair no lamaçal (foi o que nos fez ficar pra trás). Na encrusilhada vimos a placa ‘turn scenery’ e ‘waterfall’. Decidimos manter o passo q comecamos, o ‘turn scenery’ q pensávamos ser uma vista melhor pra chegar na cachoeira.
Confesso q no começo da trilha eu votei contra esse caminho, algo me dizia q se tem a palavra turn não é algo bom pra mim.
Andamos muito, mas muito mesmo. A carlinha foi despreparada, afinal nunca q iríamos topar uma trilha, e estava de short e chinelo plataforma. Ela ficou nervosa e gritou: tem um bicho no meu PE, eu tentei acalma-la dizendo q era barro. O Alex tirou e era um bicho, depois descobrimos q se tratava de uma pequena sangue-suga. Quando não agüentávamos mais a sensação de solidão da floresta e a falta de rumo, pois não ouvíamos mais som de cachoeira, chegamos numa placa: METADE DO CAMINHO. Eu desesperei. Falando como se estivesse chorando parei um casal de trilheiros e perguntei se faltava mto, o cara ficou assutado e disse q ele não tinha culpa, mas faltava cerca de 50 minutos. O Alex tentou me acalmar perguntando se eu queria voltar pelo caminho q já conhecíamos. Mas eu tinha esperança de chegar na porcaria de um ponto turístico com ônibus decorado cheio de coreanos e suas câmeras.
Continuamos nosso caminho. A carlinha não estava confortável com ao bichos e chorava dando gargalhada. Ela pedia pra eu não rir dela, mas a cena era realmente cômica. O Alex teve uma idéia, se ela colocasse a meia dele ficaria a vontade. Ela resistiu. Eu incentivei. Portanto, no meio do nada, numa floresta molhada, um rapaz tirou sua meia nojenta e molhada e deu pra mocinha que parece uma princesa, ela enfia seu PE la dentro e enfia o dedo da Mao entre os dedos do PE pra fazer o espaço do chinelo. Enquanto isso ela pensava alto e chorando: pq eu to passando por isso?
Recuperados da situação, andamos. O Alex sempre foi um anjo com sua paciência e otimismo: ‘meninas, mantenham o ritmo de vcs, não forcem que não temos pressa’. De repente, uma nova placa, uma esperança que faltasse alguns metros, ate um kilometro seria tranqüilo. E na placa: 1,5km para a GIANT STAIRWAY. Entrei em desespero novamente, fiquei enlouquecida! Eles não sabiam o que estava acontecendo q eu tive que explicar: gente, é uma .....escada...GIGANTE!!!!! Pq eles chamam ela de gigante? E porque tem uma escada aqui nesse morro? Eu so quero chegar no topo dessa pedra q to rodeando!!!!
Vale lembrar q nossa vista não era privilegiada, era um dia de chuva! Tinha uma alternativa, voltar o caminho todo, mas ainda pensávamos: se chegamos, vamos pro final, não pode ser tão ruim.
Metros depois, outra placa: HARD STAIRWAY. Era o momento perfeito pra se pensar: australiano gosta de esporte radical, HARD aqui deve ser OVERHARD pra mim! Mas eu não pensei em nada, so que essa escada tava demorando muito. Perguntei pra mais uma pessoa no caminho e ele disse que era 10 minutos andando e 45 de escada. Vc acreditaria nesse exagero? Pois é, eu não!
Ate que ela chegou! A escada varia entre pedra e ferro, sendo que o ângulo é quase 90°. Subíamos 2 metros e paravamos pra descansar. Juro que em alguns momentos pensei que morrer seria mais fácil. Meus companheiros foram muito pacientes em compreender que no meu peso deve ser difícil subir um andar, quanto mais......sabe la deus, afinal a gente nem sabia onde tava quanto mais onde ia dar!

Perguntei pra alguns doidos q desciam a escada sorrindo se eu veria a ‘tree sister’ em algum momento. Eles me olhavam estranho e diziam que no topo sim. Não entendia, eu tava alto o suficiente pra ver essas porcarias de irmãs!!!!
Subimos, subimos, subimos. Uns turistas indianos tiraram foto da carla quando a mesma descansava num banquinho (tem banquinho a cada x metros, paramos em todos!). Num determinado momento a carla me olhou e disse a maior das verdades desse dia: ‘por mais que a gente conte, ninguém vai entender a dor que estamos sentindo ju’. Verdade. Acredito que vc que me conhece deve estar rindo, achando divertido e uma superação, mas eu sinto dor na batata da perna e perco o fôlego de subir 10 metros de rampa com leve inclinação, eu não consigo descrever o que senti. Fome, frio, calor, dor, nada disso era perceptível, eu so sabia que estava com o corpo inteiro molhado e o Alex explicou que era suor.
De repente quando pensávamos estar quase no topo percebemos que era o topo da pedra ao lado. Se vc ainda não compreendeu, nesse momento percebemos: estávamos subindo a ‘tree sisters’. Tiramos algumas fotos, era um belo momento, pq não se via nada, apenas aquela pedra enorme q entendemos onde estávamos. A carla estava impaciente e seguimos ela rumo ao final, afinal, agora sim era o final. A carla sempre na frente, eu no meio e o Alex atrás de mim pra poder acompanhar meu ritmo, ele foi muito solidário com isso, e depois de mto tempo que percebi que ele tbem estava se esforçando demais pra um diabetico, e por mais que eu pudesse ter um colapso nervoso ele poderia ter uma simples hipoglicemia que seria desesperador já que não tínhamos comida conosco. Mas Gracas a Deus ele ficou bem o caminho inteiro, quem deu trabalho foram so as duas princesas histéricas.
Vi a carla chegando no topo. Uma senhora falou com ela que me olhou com os olhos arregalados. Eu olhei pra senhora que me sorriu e disse: WELL DONE! E a carlinha imendou:nos acabamos de subir MIL degraus! A senhora me olhou novamente e repetiu: ONE THOUSAND STEPS, WELL DONE, IT´S REALLY HARD WORKING. Eu tive vontade de chorar e abracar a senhora.
Nada que eu contar a mais desse dia vai valer a pena……





Obs: mas cheguei em Sydney na chuva, caminhei calmamente ate em casa ensopada e fui tomar banho no escuro pq estava sem luz no banheiro. E juro q não senti nada tamanha exaustão. Durmi as 8h20 da noite, cheguei atrasada na escola e ainda to cansada. A dor na perna so esta começando agora, talvez pq hj ainda resolvi caminhar da escola pro centro com uma amiga, e foram mais 1h30 andando lentamente.

4 comentários:

  1. Amiga..que orgulho! Vc agora é oficialmente uma trilheira! Totalmente despreparada..mas uma trilheira! Linda, parabéns! Viva a Australia, só do outro lado da terra para a pessoa fazer coisas diferentes! E pensar que a gente achava a subida de Olinda uma coisa de outro mundo!

    ResponderExcluir
  2. Prima, nem sei o que dizer viu...orgulho de prima conta??? hahahahahahahaha já passei por situações assim no Brasil, naquela epoca que eu era perdida na vida e não podia ver uma trilha que me enfiava nela, e te confesso que tem horas que da vontade de sentar no chão e chorar até aparecer alguém ne,,,kkkkk
    Mas vc ganhou estrelinha com gliter viu

    ResponderExcluir
  3. Ju, simplesmente demais!!! Sem querer você chegou ao topo! Well done mesmo! Se alguém te disesse: vamos até lá, são X km, Y degraus, tem que fazer trilha, tem que subir, tem lama, etc, você iria?

    O poeta francês Jean Cocteau disse: "Não sabendo que era impossível, foi lá e fez". Pense nisso como uma superação, como mais uma coisa incrível que você fez na sua vida, do outro lado do mundo, subindo num lugar que você jamais imaginou que fosse chegar =D

    Quando eu fui pra Coréia, também subi uma montanha com a equipe da Cheil. Totalmente despreparada, morta de cansaço, com frio, calor, fome, suando, e os tiozinhos coreba me ultrapassando felizes e cantarolando como se estivessem caminhando no calçadão de Ipanema, sem um pingo de suor na testa. Eu imagino o seu sofrimento, eu senti o mesmo aquela hora. Mas fala a verdade, quando você chegou lá em cima e descobriu onde estava, aposto que seus olhos brilharam e que até agora você olha pra foto dessa montanha imensa e pensa "Meu Deus, eu cheguei até ali em cima, andando!".

    Beijos grandes pra você!!!!

    ResponderExcluir
  4. marcinha, meu pai usa essa frase comigo desde pequena, tem ela escrita em td q é canto na minha casa...mas nunca soube o autor. Cara, muito obrigada! Sim, a sensacao qdo se chega é incrivel, qdo eu lembro tbem, pq eu nunca toparia algo parecido com isso.
    bjo gde.

    ResponderExcluir